mosaico

Bebíamos e você se movimentava para, com a serenidade habitual, manter o tom profissional à conversa. Nossas mãos serpenteavam, garçons questionavam e serviam enquanto cães destruíam os portões das garagens de casas conhecidas. Como um código, determinadas palavras na explanação da atividade, associadas ao modo como sua mão tocava meu ombro, costas e a proximidade dos seus lábios, me revelavam aquilo que, e eu não tinha mais como certo, você desejava esconder. Interrompi o seu esforço quando trouxe sua mão próxima ao meu rosto. Nunca a havia tocado com tanta suavidade. Senti o cheiro no seu pulso e o reconheci, mas deixei de lado a brincadeira sem arriscar palpites, sabia o que era, então me ative a acariciar a mãozinha e a me deixar levar pelo toque dos pequenos dedos e o perfume que do pulso ia à palma quente. Deu-me um presente disfarçado de tarefa e ele veio em formato de cartão, com palavras ocultas sob grossas camadas de nanquim que não me impediram lê-las, entretanto o comportamento para não alertá-la não me permitiu memorizá-las. Havia também um vídeo, gravado do interior de um ônibus de viagem, onde você, em calça preta e blusinha branca, caminhava. Nas imagens era noite e terminava contigo entrando em uma casa comum na minha terra, com muros baixos, portões de alumínio e piso de cacos.