Apelidaram-na “Sereia” por nunca abrir a boca, mas sequer conheciam seu poder de encantamento. Dia desses conto para ela o efeito que tem sobre mim.
Ela achava perturbadoras as pequenas figuras femininas constituídas de papelão e espuma que eu recortava sem gabaritos e surpreendeu-se ao identificar-se de saias à cintura. O sorriso sempre tímido da boca que me encantava tornou cheio de dentes. Agora, mais tagarela do que nunca, põe-se a pendurar-se no meu braço e sobre tudo perguntar, querer ver e saber.
Após recolhermos cantis e lanternas, antes que fossem pisoteados pela turba, a juventude que ia e vinha, sentamos para nos deliciarmos com paçoca. Ela amou paçoca.
Na repentina mudança de cenário vislumbramos um desfile com tipos militares de todas as partes do mundo, algumas curiosas fardas claras e turbantes e então começo a associá-los aos Comandos em Ação. Ela arregala os olhos curiosa ao notar as cartelas dos bonequinhos e maravilha-se com algo que não é do seu tempo, as fichas dos personagens.
Corro e ela comigo. Com Uzis e katanas de plástico acidentalmente disparamos os alarmes de todos os corredores da mansão. Eu nada digo. Ela sorri e seus olhos castanhos dizem “entendi”. Snake Eyes fez voto de silêncio. Sem julgamento. Apenas diversão.